As passagem em discussão:
“E, demorando-nos ali por muitos dias, chegou da Judéia um profeta, por nome Ágabo; e, vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo e, ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus, em Jerusalém, o varão de quem é esta cinta e o entregarão nas mãos dos gentios” (At. 21.10-11).
A falsa acusação:
A de que Ágabo teria errado ou se equivocado em sua profecia no sentido de que Paulo não foi amarrado pelos judeus e de que Paulo não foi entregue pelos judeus aos romanos.
Primeiro, antes de mais nada, temos que deixar bem claro que a posição que defende os supostos dois erros da profecia de Ágabo é de origem de dois teólogos famosos e conhecidos no meio acadêmico, D. A. Carson e Wayne Grudem.
Essa idéia dos supostos dois erros na profecia de Ágabo é defendida por Grudem na seguinte obra: The Gift Of Prophecy in the New Testament and Today (“O dom de Profecia no Novo Testamento e Hoje”) [Wheaton: Crossway, 1988, 2000], p.18 e também por Carson em Showing the Spirit: A Theological Exposition of 1 Corinthians 12-14, p.97-98 (“Revelando o Espírito: Uma Exposição Teológica de 1 Coríntios 12-14, p.97-98”).
Ágabo, embora citado no caso de sua profecia em relação a Paulo, não era uma pessoa nova e já havia profetizado anteriormente com perfeição, como vemos em Atos 11.27 e 28: “Naqueles dias, desceram profetas de Jerusalém para Antioquia. E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César”. Esta passagem serve para apresentar as credenciais de Ágabo, primeiro, ele é descrito como profeta e tem sua profecia perfeitamente cumprida.
Note ainda que, em relação ao que Ágabo profetizou, Paulo já estava, pelo Espírito, sendo alertado antes, conforme ele mesmo descreve em Atos 20.23-23: “E, agora, eis que, ligado eu pelo Espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá há de me acontecer, senão o que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações”.
Vamos então começar a resolução das falsas acusações de ordem inversa, primeiro trataremos da segunda acusação, a de que Paulo não foi entregue aos romanos pelos judeus.
Não existe ninguém melhor e mais qualificado para responder a esta questão do que o próprio Paulo. Paulo, aos descrever os acontecimentos de sua prisão em Jerusalém, diz o seguinte em Atos 28.17: “E aconteceu que, três dias depois, Paulo convocou os principais dos judeus e, juntos eles, lhes disse: ‘Varões irmãos, não havendo eu feito nada contra o povo ou contra os ritos paternos, vim, contudo, preso desde Jerusalém, entregue nas mãos dos romanos’”. O próprio Paulo disse que foram os judeus que o haviam entregado para os romanos, agora, se Paulo, que viveu e passou por aquela experiência não souber o que ele estava falando, então quem sabe? Assim, desmitificamos a falsa e pretensiosa exegese de Grudem e Carson que, defensores do cessacionismo, tentam desqualificar Ágabo.
Resolvemos o suposto segundo erro de Ágabo, mas e quanto ao primeiro?
Bom, aqui temos algumas possíveis soluções, sendo a primeira a de que a palavra “amarrar” possui significados mais amplos, tal como levar preso, essa definição, por si só já seria suficiente para acabar com a questão, mas ainda acrescentamos que Carson diz que não foram os judeus que prenderam Paulo, e sim os romanos, mas Carson não diz de que maneira ou de qual fonte ele conseguiu tal informação, pois o texto bíblico diz que os romanos prenderam a Paulo, mas o texto não diz que os judeus não o prenderam. Lucas em nenhum momento diz que os judeus “não” prenderam e/ou amarraram a Paulo, pois certamente Paulo não se voluntariou para ser preso, afinal a Bíblia diz que os judeus arrastaram a Paulo no alvoroço, que eles estavam ferindo a Paulo e que estavam tentando matá-lo (At. 21.30-32)
Se não bastasse tudo o que já foi dito, o que Grudem e Carson exigem no cumprimento da promessa de Ágabo é um literalismo rígido tal que se o mesmo padrão de literalidade fosse exigido nas profecias veterotestamentárias, algumas delas não sobreviveriam, como por exemplo, o que faremos com a passagem de Malaquias 4.5?: “Eis que eu vos envio profeta Elias, antes que venha o grande o dia grande e terrível do Senhor”. Elias veio? Se exigirmos a literalidade rígida e imutável de Grudem e Carson, muitas profecias não subsistirão.
Portanto, termino com uma frase de Thomas R Edgard: “Ágabo não cometeu erros, ao contrário, se existem erros, os erros são daqueles que acusam Ágabo de erro”.
Por Pr. Wellington Mariano, no blog ministeriobbereia.blogspot.com
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